quinta-feira, 29 de maio de 2008

.

Os seus olhos pararam na maior fotografia que tinha no quarto, aproximou-se dela, agarrou-a e viu-a ocupar-lhe a palma da mão, afinal não ocupava tanto espaço quanto ocupava o seu corpo e todo o seu coração. Chorou então em silêncio um passado que nunca lhe foge, no rádio um fado antigo cantado com voz gasta, lembrou-se do quanto ela gostava de fado e das quantas vezes que aquela voz rasgara as paredes da casa que hoje só sentia a presença dele. Agarrou-se à foto e ao fado e imaginou-a a passarinhar pela casa com os seus pézinhos de lã, toalha enrolada no corpo, pele ainda molhada com cheiro a amendoa, como ele gostava dela, como ele ainda sabia de cor os seus gestos, a sua vida toda quase que escrita em letras maiúsculas naquela casa, naquele espaço.

Sem comentários: