segunda-feira, 9 de junho de 2008

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Aquela distância encontrava-se localizada no ano de 1968. O verão estava à porta e a mente do mundo vibrava em vários epicentros de revoluções de vontade. Nem que o mundo não mudasse com aqueles acontecimentos seria obrigado a lembrar-se que podia ter mudado... mas mudou!
O rapaz preso ao seus sonhos tinha acabado de conhecer uma rapariga ( tantas histórias que assim nos inundam, tão repetitivas que até nos afogam). A vontade de um escritor em alterar a história também é grande e quando essa vontade passa do papel para os actos ainda se torna maior. O ar quente enrolava-se nos cantos idealistas e ele, um simples escritor, estava na rua para cantar a sua poesia de desejos. Foi nessa altura que a nossa história teve muito que explicar e foi nessa altura que a conheceu...

quinta-feira, 29 de maio de 2008

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Os seus olhos pararam na maior fotografia que tinha no quarto, aproximou-se dela, agarrou-a e viu-a ocupar-lhe a palma da mão, afinal não ocupava tanto espaço quanto ocupava o seu corpo e todo o seu coração. Chorou então em silêncio um passado que nunca lhe foge, no rádio um fado antigo cantado com voz gasta, lembrou-se do quanto ela gostava de fado e das quantas vezes que aquela voz rasgara as paredes da casa que hoje só sentia a presença dele. Agarrou-se à foto e ao fado e imaginou-a a passarinhar pela casa com os seus pézinhos de lã, toalha enrolada no corpo, pele ainda molhada com cheiro a amendoa, como ele gostava dela, como ele ainda sabia de cor os seus gestos, a sua vida toda quase que escrita em letras maiúsculas naquela casa, naquele espaço.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Sem Título

Aquele espelho perante o qual ele se situava era afinal uma janela. Preso no seu quarto enquanto a chuva colidia com as telhas da sua casa percebeu que, com pequenos desenhos imaginários, a sua alma faz um mundo controlado pelas suas vontades. Os deuses que o enterraram não passavam agora de mortais, pois alteraram-se as leis da física naquele rasgar de ponteiro. O rapaz desprotegido que ele teria sido noutra vida ( ou noutro modo de vida) continha agora explosões na sua mão, todas elas causadas por batimentos cardíacos que a emoção causava à alma! A liberdade ganhou um novo sentido e os critérios alteraram-se!
No entanto tudo o que lhe tirava os limites vivia limitado por uma pessoa. Aquela casa presa ao fim do mundo, onde baldes servem de recipientes para a água que se infiltra, está preenchida de tatuagens de um amor existente. Ao ultrapassar a porta, ao entrar naquela divisão, o rapaz apercebeu-se da sua mudança de dimensão e, numa viagem estática, esqueceu a sua visão egocêntrica pela janela e fixou o olhar às fotografias que mostram que aquele quarto também sangra. Estava acordado, longe do mundo, num livro escrito por ele e por quem nunca deixou de amar.
Como é que aquilo aconteceu? Só esta história o poderá dizer...

Entitulamos Depois

Podia dizer que este blogue é isto ou aquilo e carregar numa descrição pormenorizada acerca do suposto conteúdo desta tão recente casa mas, cansei de ilusões ou precipitações, não o farei porque cabe ao leitor avaliar e não a mim que nem sei se acredito no futuro, tão incerto!
A minha única certeza é que este desafio de escrita promete trazer para a superfície a profundidade. Alguns discutirão comigo um dia esta espécie de nota introdutória mas a verdade é que não sou política, não nasci para prometer, nasci para realizar sonhos.
"Entitulamos depois" é por isso uma casa com sofás rudes onde cada palavra ganha novos tons a cada leitura. "Entitulamos depois" é uma casa com dois inquilinos que de costas voltadas realizam os mesmos sonhos, uma mesa de pequeno-almoço onde nada mais há do que duas presenças segurando chávenas de realidade.